[Hedge] O que todo Homem do Campo Deveria Saber?
- 20/01/2017 11:55:34
- Por Guilherme Renato Rossler Zanin
O que todo Homem do Campo Deveria Saber? (o que é HEDGE!)
Numa tradução literal do inglês, “hedge” significa cerca. Na prática, esta expressão americana significar minimizar o risco de um investimento, frente as oscilações do mercado.”Hedgear” ou “fazer um hedge” é na mais do que montar uma operação no mercado financeiro de proteção, para diminuir a volatilidade.
Por meio da estratégia de Hedge, os produtores e cooperativas vendem contratos futuros para se defenderem de eventuais quedas de preços das suas commodities, ao passo que os agentes que buscam proteção contra aumento de preços compram contratos futuros.
Evite risco e tenha uma produção constante!
Para este o agricultor nada mais é do que um mecanismo disponível que protege o preço da sua safra na época da venda e até garante um complemento à sua renda.
Para responder a pergunta do título gostaria primeiro de exaltar a importância do agricultor brasileiro, para depois explicar o que todo homem do campo deveria saber: como funciona um Hedge.
“Se há um setor em que o Brasil é incontestavelmente competitivo, esse setor é o agronegócio.”
O país é visto pelo restante no mundo como um dos principais provedores de alimentos no presente e no futuro. A China hoje, absorve 21,2% desse total e mantém a posição de nossa maior parceira. Motor do crescimento econômico do país, as exportações do agronegócio também é o principal fator de nossa balança comercial positiva. As vendas externas do setor corresponde a 43% das exportações brasileiras. O constante aumento de produtividade explica o bom desempenho do agronegócio – apesar das deficiências crônicas do Brasil em infraestrutura.
Para mostrar que não é só nossa a opinião do quão importante é o mercado rural para o país, apresentarei um pequeno trecho do artigo publicado pela revista Exame – Edição 1053 – onde o HSBC Comercial Banking explica a importancia do agricultor brasileiro:
O grande negócio do Brasil
País é quase imbatível no agronegócio, setor vocacionado para o comercio exterior.
Mas a realidade, teimosa como sempre, não se encaixo nesse script. Alguns dos países mais modernos do mundo, Estados Unidos à frente, mantém até hoje uma agricultura das mais pujantes. São também as sede de empresas gigantescas e globais, que faturam bilhões e empregam exércitos de pessoas produzindo e vendendo comida. E lá ninguém nunca achou que isso fosse sinal de subdesenvolvimento.Durante décadas, a maioria dos pensadores brasileiros acreditava que o desenvolvimento só viria com a superação do estágio agrícola da nossa economia. Nessa abordagem mecânica da história, indústria era sinônimo de sucesso – e agricultura, de atraso.
“Não é exagero dizer que o agronegócio brasileiro vem sustentando nossa economia.”
Em um país cada vez mais viciados em Estado, o que vemos no agronegócio é o capitalismo na veia. Não é que o governo não seja fundamental para o crescimento do agronegócio. Na área de infraestrutura, para ficar em um exemplo caríssimo aos produtores rurais, não há como encaminhar soluções para os inúmeros gargalos que temos sem a participação do governo – menos para tocar as obras em si e mais para promover as concessões à iniciativa privada e a necessária regulação. O ponto é que a produção agropecuária brasileira avança longe de interferência estatal. São gerações de produtores que se sucedem. E usam cada vez mais tecnologia no campo – o que deve levar a novos saltos de qualidade em nossa produção.
É uma mensagem poderosa, e não apenas aos que trabalham no setor mais pujante da economia brasileira. Não temos nada a temer do mundo, ao contrario. Há bilhões de pessoas lá fora ávidas por nossos produtos. A combinaçãoo certa de tecnologia e conhecimento com vontade de trabalhar está criando um novo país.Longe de Brasília, encontra-se hoje o melhor do Brasil.
Conforme o artigo do HSBC, o homem que trabalha no campo é de vital importância para a economia brasileira, e as oportunidades para quem quer investir nesta área são enormes.
Se o agronegócio já não é mais para amadores, a agricultura brasileira precisa passar por um processo de profissionalização sem precendentes. Os agricultores dominam a parte técnica. Agora começam a organizar melhor os negócios.
Graças as estas oportunidades e este interesse por melhorar os negócios da porteira para fora, criei este artigo para explicar o que todo homem do campo deveria saber: COMO FAZER HEDGE!
Na estratégia de hedge não se trata de perder ou ganhar dinheiro. Quando a gente começa a produzir algo, temos que vendê-lo por um valor acima para obtermos lucros. Quando falamos de mercado brasileiro, estimativas dizem que menos de 5% dos produtores trabalham com hedge, nos Estados Unidos, mais de 70% deles trabalham.
A pergunta que faço no texto é muito simples, porém poucos produtores rurais sabem responder:
(e a resposta dela é mais simples ainda)
Por quanto você vai vender seu produto??? (soja, boi, milho, café etc…).
Você poderia dizer que eles sabe responder sim, isso mas eu explicarei que não.
O que todo produtor sabe é qual o preço das commodities HOJE. Estes valores são encontrados em conversas com outros produtores, nas cotações das tradings e no que lêem nos jornais. Agora, qual é o preço do ano que vêm? Qual é o preço para próxima safra?
Existe uma expectativa, com base no que se negocia hoje, e nada mais! Números exatos? Nunca!
Só que essa incerteza deveria ter uma resposta simples, pois é de vital importância para perpetuidade de um agronegócio.
(Imagina você criando uma fábrica, investindo em maquinas, pessoas e matéria prima, porém não tem garantia nenhuma se terá lucro ou não. Ao total você gasta x por um produto e não sabe se irá vender com 10%/20% de lucro ou -10%/-20% de prejuizo. E pior, não pode estocar até que os preços baixarem! É assim que vive um fazendeiro no Brasil.)
Felizmente hoje existe uma forma de responder isso. Um modo simples, ágil e que pode proteger o produtor rural de qualquer oscilação nos preços. Através do mercado futuro da BMFBovespa ou de Chicago CBOT.
EXPLICANDO O HEDGE
Fazer hedge no mercado futuro visa reduzir o risco do produtor na oscilação de preços que as commodities agrícolas já colhidas sofrem na hora da comercialização.
Entretanto, antes de optar pelo hedge, é de extrema importância que o interessado passe a compreender o mecanismo e todas as suas particularidades e riscos para negociar na Bolsa. Para isso, a BM&F disponibiliza programa de informação e até um simulador de vendas com hedge, bem como, corretoras fornecem cursos para o aprendizado.
Hedgers:
Os hedgers são os participantes do mercado que procuram os futuros para obter a proteção de preços, ou seja, são os participantes que estão ligados ao produto físico. Os vendedores são os que detêm o produto físico, eles vendem no mercado futuro a fim de travar seus preços, já que seus custos são sabidos e o lucro se encontra num bom patamar. Os compradores são os que precisam do produto como matéria-prima para a sua atividade. Estes buscam o mercado futuro para assegurar o preço de seu insumo e garantir o custo de seu produto.
Operação:
Veja abaixo um exemplo simples de utilização de mercados futuros pelo produtor.
HEDGE COM CONTRATOS FUTUROS:
Produtor de Milho em Maringá/PR
Colheita estimada: 10.000 scs.
Hedge: 50% da produção
5.000 scs/450 sc = 11,1 = 11 ctrs.
Contrato Maio/15
Preço Bolsa: R$ 28,00/sc.
Preço Maringá: R$ 25,00
Produtor vende na bolsa a R$ 28,00/sc.
1º Cenário: Preços caem R$ 2,00/sc.
Produtor re-compra na bolsa a R$ 25,00/sc.
Recebeu R$ 3,00/sc.
Produtor vende o milho a R$ 25,00 em Londrina. Com os R$ 3,00 recebidos na bolsa, o preço final de venda fica em R$ 28,00, ou seja, o produtor fixou o preço de venda no futuro.
2º Cenário: Preços sobem R$ 3,00/sc.
Produtor re-compra na bolsa a R$ 31,00/sc.
Pagou R$ 3,00/sc.
Produtor vende o milho a R$ 31,00 em Londrina. Com o R$ 3,00 recebido na bolsa, o preço final de venda fica em R$ 28,00.
A vantagem para o vendedor é poder fixar um preço de venda suficiente para cobrir seus custos de produção e garantir uma margem de lucro, ficando tranqüilo para cuidar bem de sua produção, porque terá eliminado importante fonte de incerteza (risco).
O comprador, pro sua vez, fixa um preço de compra que lhe garante custos conhecidos, permitindo uma margem de lucro e minimizando o efeito do risco de alta do preço da mercadoria.
HEDGE COM OPÇÕES
Além dos contratos futuros, uma modalidade muito interessante para a realização do hedge é através do mercado de opções. No caso do hedger de venda (produtor rural) este pode comprar uma opção de venda (put) através da qual ele garante um preço mínimo de venda pelo seu produto, pagando para isso um prêmio. O funcionamento é idêntico a um seguro qualquer, ou seja, paga-se um valor adiantado para garantir uma condição específica no futuro. Veja o exemplo abaixo.
Produtor de Milho em Maringá/PR
Colheita estimada: 10.000 scs.
Hedge: 50% da produção
5.000 scs/450 sc = 11,1 = 11 ctrs.
Contrato Março/15
Preço Bolsa: R$ 28,00/sc.
Preço Maringá: R$ 25,00
Produtor compra uma opção de venda (put) na bolsa que lhe confere o direito de venda do milho a R$ 28,00, pagando por isso R$ 0,80/sc.
1º Cenário: Preços caem R$ 2,00/sc.
Produtor exerce a opção (direito de vender) na na bolsa a R$ 26,00/sc.
Recebeu R$ 2,00/sc, no entanto, como já havia pago R$ 0,80/sc, sobrará liquido R$ 1,20/sc.
Produtor vende o milho a R$ 23,00 em Londrina. Com os R$ 1,20 líquidos recebidos na bolsa, o preço final de venda fica em R$ 24,20.
2º Cenário: Preços sobem R$ 3,00/sc.
Produtor não exerce seu direito de vender a R$ 28,00 na bolsa. Neste caso, o prêmio da opção já pago, gera um custo de R$ 0,80/sc.
No entanto, o produtor vende o milho a R$ 28,00 em Londrina. Com o R$ 0,80 pago na bolsa, o preço final de venda fica em R$ 27,20.
Obs: O mérito das operações de compra de put, esta associado ao fato de que o produtor consegue garantir um preço mínimo de venda para o seu produto, ao mesmo tempo em que aproveita as altas do mercado caso ocorram. Além disso, não há necessidade de aporte de margens como ocorre nos futuros.
–
Existe inúmeros tipos de hedge. Proteger-se contra oscilação dos preços é comum no mercado de commodities agrícolas, financeiras, juros e no mercado de ações.
Exemplo de relatório de hedge com boi gordo (clique na imagem para ampliar):
HEDGE COM DÓLAR:
Se você quer saber mais sobre Hedge de dólar, para prevenir-se da variação cambial na compra de insumos, por exemplo, veja nosso outro artigo:
http://www.contratofuturo.com/prevenindo-se-da-variacao-cambial/
Exemplo de Hedge em uma fábrica de farinha de milho: Empresa João da farinha LTDA. – Brasileira
Objetivo: Proteção contra a variação do câmbio, pois precisa comprar um equipamento que custa US$ 10.000.000,00 na Coréia do Sul. O equipamento será entregue daqui a oito meses.
Cotação do dólar no momento: R$ 1,60
R$ 1,60 x US$ 10.000.000,00 = R$ 16.000.000,00
Vamos considerar duas situações:
SITUAÇÃO 1:
À Mercado – Sem Hedge
Dólar cai para R$ 1,45
Compra da Máquina por R$ 14.500.000,00
Ganho extra: 16.000.000 – 14.500.000 = R$ 1.500.000,00
Mas e se o dólar subisse?
Dólar sobe para R$ 2,50
Compra da Máquina por R$ 25.000.000,00
Ganho extra: 16.000.000 – 25.000.000 = R$ – 9.000.000,00
SITUAÇÃO 2:
Com Hedge
Dólar cai para R$ 1,45
Compra da Máquina por R$ 16.000.000,00 (FIXOU este preço)
Ganho extra: 14.500.000 – 16.000.000 = R$ – 1.500.000,00
Mas e se o dólar subisse?
Dólar sobe para R$ 2,50
Compra da Máquina por R$ 16.000.000,00 (FIXOU este preço)
Ganho extra: 25.000.000 – 16.000.000 = R$ 9.000.000,00
OBS: Como os custos são baixos para realizar estas operações, os mesmos não foram considerados nos cálculos
–
CONCLUSÃO (a luz no horizonte?!)
Em resumo, apresentei no texto a importância do agricultor para economia brasileira hoje e quais são as dificuldades enfrentadas por todos. Para o país manter-se como referencia no meio rural precisamos que a negociação dos produtos agrícolas melhor. Um dos modos de fazer isso é se proteger dos riscos de oscilação dos preços das commodities, através do hedge com contratos futuros.
Espero ter explicado bem como funciona este mecanismo. Se tiver mais dúvidas, mande um email para contato@contratofuturo.com, ou deixa um comentario logo abaixo.
Uma ótima colheita, sucesso e obrigado pela sua atenção!
- Guilherme Renato Rossler Zanin
Disclaimer:
Este artigo tem propósitos informativos e didáticos. Nenhuma decisão de investimento deve ser tomada apenas com o exposto no artigo. O presente texto NÃO CONSTITUI RECOMENDAÇÃO OU ACONSELHAMENTO de nenhuma espécie, NÃO projeta, NÃO garante nenhum lucro, NÃO valida nenhuma decisão, tampouco ou autor ou a contratofuturo.com pode ser responsabilizada por eventuais ganhos ou perdas financeiras de quem dela se utilizar.
O presente artigo tem APENAS A INTENÇÃO DE RETRATAR UM MOMENTO ESPECÌFICO DE UM ATIVO DO MERCADO FINANCEIRO e expor, DIDATICAMENTE uma possível estratégia operacional.
Consulte seu operador, principalmente se não souberes interpretar os resultados / utilizar o presente artigo. O operador é a pessoa habilitada a ajudá-lo na tomada de qualquer decisão de investimento e esclarecer os propósitos desse artigo.
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